#178 Basta pouco para ser feliz

30/05/2025 9 min

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Episode Synopsis

BASTA POUCO PARA SER FELIZQuando chegamos ao mundo, nosso olhar não se fixa. Em vez disso, dirige-se ao vasto, ao aberto. Será uma despedida? Ao olharmos para as crianças nós nos sentimos aliviados das preocupações. A realeza brilha nos olhos delas. Mesmo que se recolha com o tempo, o brilho é uma força que sempre a sustentará.Enquanto o céu claro ainda estiver aberto nas crianças, este é o ciclo: o Céu entra no mundo por meio delas e as crianças devolvem a ele o que tiram do mundo.Nos olhos delas brilha o poder real — o poder do todo, o desejo de viver, a alegria dos recomeços. Uma canção infantil diz:Basta pouco para ser feliz,e quem é feliz é rei.É preciso pouco para ser feliz porque tudo já está presente. Mas, com o tempo, a visão do todo da criança se fecha, o olhar redondo se estreita, o maravilhamento se contrai em concentração. Individualidades vêm à tona. O concreto entra em foco e obscurece o que é aberto. O mundo vem tornar-se o cenário. É hora de aprender alguma coisa. É preciso se equipar, treinar para dominar. Lutar pela vida. Como sobreviver? O mundo diz: adquira conhecimento, habilidades, estabeleça metas... Começamos a repartir a vibração do princípio, a infinitude do fundamento primordial. Lutamos por propriedades. A consciência e a vontade do todo deixam-se transformar em consciência e vontade do ego. As altas frequências da alegria, da serenidade e amor pela vida deixam-se usar para desejos e ideias pessoais. Nós nos tornamos mais densos, nossa permeabilidade ao princípio diminui. Ouvimos: “Mantenha os pés no chão.” A alegria cósmica dos constantes recomeços, a luz do sol interior, entra em nós filtrada. Medos e desejos, elogios e censuras, orgulho e abatimento se interpõem diante dela.Atendemos quando nosso nome é chamado, mas será que é realmente a mim que ele designa?Todos participamos do jogo da vida. Às vezes somos bons, às vezes não. Quem desempenha o papel principal? Quem é o “rei”? A canção infantil já não ressoa em nós.A realeza está oculta. O rei ainda envia mensagens que nós adaptamos. A história da humanidade está repleta daqueles que lutam e morrem por seu rei. A imagem de domínio está impressa em nós e, por isso, em algum momento, queremos governar sobre algo.Então vem a morte e um milagre pode acontecer: os olhos que se apagam deixam ir seus desejos e se voltam novamente para a vastidão do começo. Apesar da situação miserável, a alegria resplandece. A alma abandona os limites do corpo, segue para o ilimitado e é acolhida.Mas as nuvens que criamos em nossas vidas nos acompanham e escurecem a alma – é o resultado do que fizemos, quisemos, pensamos e sentimos. O traje externo é descartado, mas continuamos a usar o interno. O sol do todo brilha através de nós e nossa vida é refletida em sua luz. Admirados, talvez até com um arrepio, indagamos sobre o que dizemos, causamos, influenciamos e deixamos.E então, eventualmente, a alma retorna à cena. O jogo ainda não acabou. Tudo o que dela emanou e o que a terra preservou para ela confronta agora a alma. Ela é de novo uma criança que — com outra língua, em outro país — canta de novo:Basta pouco para ser feliz.A canção é para o inconsciente, a uma visão oculta e não desenvolvida. Torna-se um impulso para o crescimento. O mundo rapidamente enterra a profundidade e vastidão que batem à porta. A criança é criada para ser útil na vida.Às vezes, entretanto, vem uma voz disruptiva no meio do caminho e força a criança a parar. O que a está incomodando? Volta à sua ocupação, mas se pergunta: o que estou realmente fazendo? Perguntamos sobre o que está realmente acontecendo. Há uma sensação de desconforto. Tudo o que acontece tem significado? Quais os verdadeiros nomes das pessoas e coisas? Ponderamos, sonhamos e não nos apegamos mais tão fortemente. Impressões de um futuro e de um passado surgem, mas ele não são de quem somos verdadeiramente.Continuamos a jogar e aprendemos nossos papéis. Mas por dentro somos outros. Não somos apenas personagens. Sem dúvida, isso que nos ocupa também nos despoja de um reino de luz do qual só temos vagas impressões. Porém, contos de fadas, lendas e filosofias falam conosco de uma maneira especial. Cada um de nós é um rei sem país. Somos jogados de um lado para o outro em alto mar. E então, a terra aparece. Um pensamento emerge. Quanto o sol interior participa das coisas do mundo, até mesmo em sua escuridão! Ele brilha na ternura de uma flor, no sorriso de uma pessoa, no canto de um pássaro. Mas também pode brilhar de olhos fechados... e então os olhos começam a se abrir.A luz interior pode brilhar pelo sofrimento, tristeza, dor e erro. Ela cria sabedoria, discernimento, bondade... Sem nós, isso não pode ser realizado. Estamos preparados e devemos cooperar em nossa transformação. Espera-se que transformemos o peso em leveza. Isso pode ser feito na vibração da alegria.A alegria e a felicidade irrompem, embora pareça embaraçoso ter serenidade na aparente desesperança e na atual situação que a humanidade vive.Mas essa alegria vem da luz que nos penetra pela porta aberta do coração. Como cumprir as atribuições que traz? Permeando o mundo com a luz da alma para que o maior número de pessoas perceba quem elas são em suas profundezas. Os olhos são chamados a se abrir novamente, o significado de nossa existência quer se revelar.Amplos espaços podem emergir no coração. Neles, coisas e pessoas entram, são batizadas com seus verdadeiros nomes, são percebidas e capturadas por forças curativas de luz. Um “soro”, por assim dizer, é dado àqueles absorvidos nos amplos espaços do coração, onde a luz está em ação: o poder do Uno, o aberto, a semente da libertação, a realeza.Basta pouco para ser feliz.E quem é feliz é rei.Imagem: child-Bild von Bellezza87 auf Pixabay CCO